A minha mama direita

Estou prestes a despedir-me da minha mama direita.

O Vicente já tem quase seis meses, a parte chata da vida está prestes a recomeçar (por parte chata quero dizer trabalho: jornal, dar aulas, doutoramento, reuniões, viagens para trás e para a frente, etc.) e não há mama – nem sequer a minha mama direita – que aguente este novo ritmo.

A minha mama direita foi uma companheiraça ao longo destes meses.

Calou muitas birras nos lugares mais impróprios e naqueles tão silenciosos que até o zumbido de uma mosca nos incomoda.

Estou em dívida com a minha mama direita.

A ela lhe devo mais umas horinhas de sono nos primeiros meses (era só deitá-lo na minha cama com a mama de fora que dormíamos os dois); conseguir andar com o Vicente de automóvel (quando começava o berreiro era só parar o carro, saltar para o banco de trás e resolver o assunto em cinco minutos para poder seguir viagem); jantar sossegada em muitos restaurantes (embrulhado numa écharpe todos julgavam que estava a dormir); adormece-lo de dia e de noite; não ter que sair nua de um provador da Bershka (contextualizem-se aqui); contemplar o mar (enfiados na tenda da Imaginarium) e tantas, tantas outras coisas.

A minha mama direita alimentou-o, acalmou-o, adormeceu-o, tranquilizou-o e, principalmente, calou-o.

Foi uma guerreira. E solitária, porque a mama esquerda desistiu da batalha ao fim de dois meses. A minha mama direita valeu por duas. Está na hora do descanso, justo e merecido.

Agora vamos lá ver se não tenho que sair nua de um provador de uma loja qualquer nos próximos tempos…