segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O dia mais longo

Naquele Sábado eu acordei cedo. Acho mesmo que acordei antes do dia começar.
Antes de todas as outras acordarem.
Antes do dia anterior acabar.
Porque aquele sítio era assim: às vezes os dias começavam antes dos anteriores terem acabado.

Naquele dia eu acordei cedo e fiquei à espera.

Fiquei à espera dele, que só viria mais tarde, depois de almoço, na verdade lá mais para o meio da tarde. Ou para o fim, já quase a anoitecer.
E enquanto esperei vieram trazer-me o pequeno-almoço à cama.
Leite com torradas e fruta e Cerelac. E pó, claro.
Depois vieram com os alguidares.
Um quente.
Outro frio.
E fecharam as cortinas.
E eu perguntei: “E o meu cabelo? Não o posso lavar?”
E ela respondeu: “Amanhã, que é Domingo. O cabelo só se lava ao Domingo. Não estava cá no Domingo passado?!”
E eu: “Estava, mas ninguém me falou nisso….”
E ela: “Vou já colocá-la na lista para lavar o cabelo amanhã”.
E eu sorri e lá continuei deitada.
À espera.
Eu e o meu cabelo sujo, muito sujo.
Depois vieram os médicos.
Perguntas e mais perguntas.
Medicação.
“Tenho que continuar a soro?”.
“Sim, sempre. Ajuda a manter o líquido amniótico”.
Depois CTG. Sem contracções.
Depois chamaram-me para a ecografia do dia.
Lá vem a auxiliar com a cadeira de rodas para me levar.
E eu tento suborná-la.
“Pode parar à porta da casa de banho só para eu ir lá num instante?”.
“Já sabe que não pode ir à casa de banho! Não se pode levantar!”
Sim, mas já que estou na cadeira de rodas e é mesmo num instantinho e….
“Está bem, está bem, mas depressa!”.
E fui.
E depois fui para a eco.
“Como estamos de perdas?”, pergunta a médica.
“Igual, continuo a perder muito líquido”.
Ela vê e vê e vê.
“Ainda tem algum, dá para aguentar mais uns dias. Com o soro e com a água que bebe por dia ele vai sendo reposto”.
“E elas?”, pergunto eu.
“Para já estão bem. Amanhã fazemos nova eco”.

E lá voltei eu para a cama.
E pouco depois veio o almoço. Com pó, claro.
E a seguir ao almoço tive a visita do pai.
Carregado com revistas e chocolates e bolachas e água, muita água.
E pouco depois veio o lanche e mais pó.
E eu já estava em pulgas e mandei o pai embora.
“Vai andando, vai buscá-lo”.
E ele foi.

E a enfermeira veio fazer-me outro CTG.
E trocar o soro.
E dar-me os medicamentos.
E quando a auxiliar veio tratar da limpeza eu pedi-lhe para me tirar dois embrulhos que tinha no armário.
E guardei os embrulhos debaixo da almofada.
E depois fiquei a olhar para o relógio à espera que chegassem as 18 horas.
Estava internada há pouco mais de uma semana.
O Vicente só me podia visitar aos fins de semana e só na visita das 18h.
Era o plano de contingência por causa da gripe A.
Nunca tinha estado tanto tempo sem o ver e estava ansiosa pelo momento.

Às 18h em ponto começaram a chegar as visitas.
E às 18.04h chegou ele.
O pai sentou-o em cima da cama e ele abraçou-me com força.
E deu-me beijos, muitos beijos.
E disse “mamã”, que era tudo o que ele sabia dizer na altura.
E depois eu dei-lhe os carrinhos que tinha guardados para ele.
E ele adorou.
E brincou.
Sozinho, comigo, com as filhas da minha “vizinha” do lado.
Até que se ouviu aquela voz encostada à porta da enfermaria: “As visitas têm que sair”.
Ele chorou agarrado a mim para se ir embora.
Eu fiquei despedaçada.
E disse-lhe: “Amanhã vens outra vez ver a mamã, boa?”.
E ele lá foi, a chorar, ao colo do pai.
E eu fiquei deitada, na cama, a ouvir o choro dele desaparecer no corredor.

Depois veio o jantar e eu disse para a minha vizinha do lado:
“Estou com a clara sensação que vai ser esta noite….”
E ela: “Mas porquê?!”
E eu: “Acho que alguma coisa se está a passar….”
Por volta das 21h, quando a enfermeira veio tirar a temperatura e ouvir os bebés com o doppler (o que fazia aí umas 10 vezes por dia), eu disse-lhe:
“Acho que estou com contracções”.
E ela: “Acha? Mas não tem a certeza?”
E eu: “Dê cá a mão. Veja, não é uma contracção?”
E ela: “Não, isso não é uma contracção!”
Eu: “Olhe que é…”
Ela, a brincar: “Não, não é. Veja lá se me estraga a noite como no outro dia!”
(Outra noite um médico mandou dar-me um antibiótico por via venosa que me fez vomitar a noite inteira).

Às 11h vieram trazer-me a minha ceia especial: Cerelac com 10 colheres de pó.
E eu lá comi.
E à meia-noite, a enfermeira veio outra vez ouvir as bebés.
E eu disse: “Olhe que eu acho mesmo que estou com contracções….”
“Quer fazer outro CTG?”
E eu: “Talvez seja melhor”.
E à meia-noite e picos lá estava eu a fazer o CTG. Mais de uma hora.
E ela veio ver e disse: “Bem, de facto teve aqui uma ou duas contracções, mas nada de especial…”.
E levou o CTG e apagou a luz.
E eu troquei mensagens com o pai.
E disse-lhe boa-noite e fechei os olhos e tentei dormir.

Eram 2.30h da manhã, ainda eu não tinha adormecido realmente, quando surgiram as contracções.
Deitada na cama, na enfermaria escura e silenciosa, agarrei-me ao telemóvel para controlar a frequência das contracções: de 5 em 5 minutos. Sem dor.
E ali fiquei a controlar tudo.
Às 4.00h da manhã as contracções estavam de 3 em 3 minutos.
Lá toquei à campainha.
Lá veio a enfermeira acabadinha de acordar.
“Estou mesmo com contracções e estou a controlar no telemóvel e estão de 3 em 3 minutos….”.
Ela vai buscar o CTG e 10 minutos depois telefona para o piso de baixo, para as urgências.
A porta da sala das enfermeiras era mesmo em frente à porta da minha enfermaria.
E no silêncio da noite dava para ouvir tudo.
“Boa noite, tenho aqui uma senhora de gémeos, de 31 semanas, com contracções fortes de 3 em 3 minutos”.

E cinco minutos depois entraram pela enfermaria dentro, como se fossem 4h da tarde e não 4h da manhã, 3 médicos e um ecógrafo portátil e as enfermeiras.
E acenderam a luz, e falaram alto, e as outras grávidas enfiaram-se debaixo dos lençóis.
O médico fez a ecografia e olhou, olhou, olhou.
Analisou os relatórios das ecos anteriores.
E depois disse para a outra médica: “Ainda tem algum líquido, mas já está em claro trabalho de parto”.
“Tem dores?”, perguntou a médica.
“Nem por isso”, disse-lhe eu.
Ela fez o toque.
“Pois, vai ser nas próximas horas”.
E eu disse: “Tem que ser cesariana, certo?”.
E ela: “Porquê?!?!”.
Respirei fundo: “Porque elas tiveram Síndroma de Transfusão Feto Fetal, fomos a Londres fazer o laser, e as indicações dadas pela Dra. Teresinha, que nos tem seguido na consulta de alto risco gemelar, é que depois disso tem mesmo que ser cesariana. Além disso, uma está sentada e elas vão nascer com 31 semanas….”.
E ela responde: “Não acho que tenha que ser cesariana, vamos tentar o parto normal. Se não conseguirmos fazemos cesariana.”

Eu não queria acreditar.
Ainda não eram 5h da manhã, não podia ligar a nenhum dos meus médicos, à da consulta de risco, à das ecografias, ao meu médico particular que também trabalhava na MAC.
Depois de tudo o que tinha passado na gravidez, no momento decisivo a médica quer fazer parto normal…
Entretanto ela diz à enfermeira:
“Ligue para os cuidados intensivos da neonatologia e veja se há duas incubadoras livres. Estes bebés nascem nas próximas duas ou três horas”.
E depois para mim:
“Daqui a bocado volto para acompanhar o trabalho de parto, entretanto a enfermeira fica aqui consigo”.

Eu ia morrendo.
Mandei sms ao meu marido: “Elas vão nascer em breve, já estou em trabalho de parto”.
Ele telefona e pergunta: “E o que é que eu faço ao Vicente?”
Telefono para casa da avó G., emprestada, e ela diz que o vai já buscar.
São 6 e picos da manhã.

De repente sinto sair o rolhão mucoso, com muito sangue à mistura.
A enfermeira vem logo ver.
Faz o toque.
Vai ligar lá para baixo.
“É melhor virem depressa”.

A médica vem logo, desta vez como uma estagiária com quem eu já me tinha cruzado algumas vezes.
Ela faz o toque e diz para a enfermeira: “Prepara-a para descer para o bloco de partos, já está com 5 dedos de dilatação”.
E eu pergunto: “Insiste no parto normal?”
E ela responde: “Vamos tentar”.
Eu insisto: “O meu primeiro filho nasceu de parto normal, foi facílimo, não tenho nada contra, pelo contrário. Mas não neste caso!”
Ela insiste também: “Vamos tentar”
E vai-se embora.

Já estava eu preparada para ligar à minha médica, até porque já eram quase 7.00h da manhã, quando a tal estagiária volta e me diz:
“A sua médica está lá em baixo, já a informei do que se está a passar”.
Foi ela que nos salvou.

Cinco minutos depois a enfermeira vem ter comigo aliviada a dizer que a Dra. Teresinha tinha dado ordens para me prepararem imediatamente para ir para o bloco fazer a cesariana.
15 minutos depois já eu estava no bloco com vários médicos e enfermeiras.
A Dra. Teresinha quando me viu só abanou a cabeça.
Médicos e enfermeiros gritavam todos uns com os outros.
E corriam dentro do bloco.
“Depressa, depressa”, gritava a médica.
Eu não tinha dores, não entendia a pressa.
Depois anestesiaram-me e prenderam-me tipo Cristo e com máscara de oxigénio.
Eles continuavam a gritar.
E a correr.
“Vou abrir!”, gritou a médica.

Eram duas salas, separadas por uma passagem ampla e sem porta.
Na sala ao lado estavam duas incubadoras.
Para cada incubadora havia vários médicos e enfermeiros.
Tantos, que nem os conseguia contar.
À espera.
Como se estivessem numa linha de largada para uma corrida à espera do disparo.
“Atenção”, gritou a médica, “vou tirar a primeira!”
Uma enfermeira levou-a embrulhada, apressadamente, para uma das incubadoras.
Era tanta gente à volta da incubadora que eu não conseguia ver nada.
Eram 7.58 da manhã.

A outra equipa esperava a segunda.
Um minuto depois a médica voltou a gritar:
“Vou tirar a outra”.
E de imediato a levaram para a outra incubadora.
E ali ficaram largos minutos, à volta das incubadoras.

Eles falavam uns com os outros e mexiam e iam buscar coisas a mais coisas e falavam e mexiam.
Nunca as consegui vislumbrar.
A dada altura o pediatra responsável espreitou para a sala onde eu estava e disse:
“Vamos subir com elas para os cuidados intensivos. São jeitosinhas!”, e fez-me o sinal de OK com o polegar.
E foram.

E eu continuei lá.
Quando me tiraram a máscara perguntei à médica:
“Correu bem?”
Ela abanou a cabeça e disse: “Foi mesmo no limite”.
E eu: “E elas?”
“Elas são muito pequeninas, são 31 semanas. Temos que aguardar”.

E levaram-me para o recobro.
Não sei quanto tempo ali estive mas pareceu-me uma eternidade.
A sala estava vazia.
Eu tinha frio.
Com a cara debaixo dos lençóis, pela primeira vez chorei.
Perguntei à enfermeira notícias das meninas.
“Já vêm falar consigo”.
“Falar comigo? Mas aconteceu alguma coisa?!”
“Não, vêm sempre falar com as mães”.
E eu esperei.
E eu voltei a perguntar.
“E as minhas filhas?”
E ela voltou a responder.
“Já vêm falar consigo”.
E eu voltei a perguntar.
E ela respondeu: “Vou telefonar para a neo para saber notícias”
E telefonou.
E disse:
“Fala do recobro, tenho aqui uma mãe muito ansiosa por notícias das suas meninas. Duas gémeas que nasceram agora de manhã”.
E eu não ouvi o que disseram do outro lado.
E ela ia dizendo: “hum hum… pois…. Está bem”.
E quando desligou disse:
“As suas meninas estão estáveis”.
E eu perguntei: “Mas estão bem?”
E ela reafirmou: “Estão estáveis”.
E aqui aprendi logo que “estão bem” é algo que nunca vamos ouvir numa unidade de neonatologia.
E ela acrescentou: “O pai já está com elas”.
E eu senti-me aliviada.

Depois o pai veio ter comigo.
“Então?”, perguntei eu.
“São pequeninas, muito pequeninas…”
“Mas estão bem?”
“Não sei… acho que sim….mas estão cheias de tubos”
“Estão ventiladas?”
“Não, mas estão com oxigénio”
E não houve tempo para mais.

Depois levaram-me para a enfermaria.
E quando tive que me deitar na minha cama percebi que a recuperação da cesariana ia ser bem mais dolorosa do que a do parto normal….
E queriam que eu comesse chá e bolachas.
“Não”, disse eu.
“Tem que comer”, diz a auxiliar.
“Não quero”, digo eu.
“Tem que comer”, diz a enfermeira.
“Não quero”.
Se vomitasse não me deixavam levantar tão depressa, por isso não queria sequer correr o risco.
Na enfermaria, as outras mães olhavam para mim de lado.
“Onde está o bebé dela?”, perguntava uma, em surdina.
No outro canto, duas outras olhavam disfarçadamente.
“Tem duas fitas no braço”, diz uma delas….
A dada altura chegam duas enfermeiras dos cuidados intensivos de neonatologia para falar comigo.
“Elas estão bem?”, pergunto.
“Estão estáveis”, respondem.
“Mas está tudo bem?
“Está tudo estável”
“Estão ventiladas?”
“Não, estão com apoio de oxigénio apenas”
“Quanto pesam?”
“1200 g cada…. É muito bom mãe, muito bom”

Às 14h em ponto, seis horas depois delas nasceram, chamei a enfermeira para fazer o levante.
Que era muito cedo, que isto e que aquilo.
“Se não me ajuda a levantar, eu levanto-me sozinha e vou lá….”.
Lá fui dar um duche com a ajuda de duas enfermeiras.
Depois quiseram tirar-me sangue.
Tiraram.
Depois quiseram que eu fosse de cadeira de rodas.
Concordei.
Depois queriam que fosse uma auxiliar a empurrar a cadeira.
Esperei.
Esperei.
E esperei.
E perguntei se não podia ser o pai a empurrar-me.
Concordaram.
E lá fomos nós.

As portas eram de vidro fumado e tínhamos que tocar à campainha.
Depois tínhamos uma área com cacifos e com um lavatório.
Devíamos lavar as mãos e os braços até ao cotovelo e, de seguida, usar um gel desinfectante e secá-las devidamente.
Assim fizemos.
Depois tínhamos outras portas automáticas.
E depois um corredor, com duas portas de acesso aos cuidados intensivos de neonatologia.
Os cuidados intensivos de neonatologia da MAC são, essencialmente, um corredor com compartimentos individuais dos dois lados.
São 12 compartimentos.
É tudo envidraçado.
Cada compartimento tem uma incubadora e um único bebé.
Muitos e muitos aparelhos.
Um computador onde a enfermeira / o enfermeiro anota tudo.
E um enfermeiro para dois bebés.
E pediatras neonatologistas, muitos, sempre presentes.

A Maria e a Eva estavam nos compartimentos 10 e 11.
Em frente uma à outra.
Ao fundo do tal corredor.
O corredor que eu atravessei de olhos postos no chão.

Não me recordo qual delas fui ver primeiro.
Estavam quietas.
Nuas.
Cheias de tubos.
No nariz.
Na boca.
Na cabeça.
No peito.
Tinham dois fios que lhes entravam pelo umbigo.
As mãos ligadas com uma agulha espetada.
“Porquê é que esta agulha está aqui espetada?”
“É muito difícil apanhar uma veia num bebé tão pequeno… é para ser mais rápido em caso de urgência”.
As máquinas apitavam alto, muito alto, e piscavam com luzes vermelhas de vez em quando.
E diziam coisas aterradoras como “Apneia” / “batimento cardíaco ausente” / “Sem oxigénio”
O enfermeiro não saía de lá.
E eu dizia: “Isto está a apitar!”
E ele dizia: “Eu sei, não se preocupe”.
E quando aquilo voltava a apitar.
“Isto está a apitar”.
“Sim, não se preocupe”.
Quando elas tiveram alta ainda não me tinha habituado a isto.
“Posso tocar-lhes?”
“Sim, mas não coloque roupa nenhuma dentro da incubadora, tem que se arregaçar até ao cotovelo”.
Ok.
“Lavou as mãos até ao cotovelo?”.
Sim.
Fiz uma festa na Maria.
“Não faça festas. A pele delas é demasiado delicada para essa fricção”
Então?
“Toque-lhes apenas e mantenha a mão fixa”.
E eu toquei-lhes e mantive a mão fixa.
“Está tão branca… está-se a sentir mal?”
Não, mas está aqui tanto calor.
“Pois, tem que ser”.
Sentei-me.
E voltei a insistir: “Elas estão bem?”
Estão estáveis.

O pai saiu e eu fiquei.
Não sei quanto tempo lá estive.
“Posso voltar até que horas?”
“A qualquer hora de dia ou de noite, estamos sempre cá”.
Voltei para a enfermaria.
Deitei-me um bocado e fiquei à espera do Vicente.
O meu marido telefona-me:”Não deixam entrar o Vicente”
Porquê?
Porque já não estava no internamento, estava no pós-parto e o plano da contingência da Gripe A não permitia visitas de crianças nesse serviço.
Insisti.
Em vão.

Não ver o meu filho no dia em que as minhas filhas nasceram estava fora de questão.
Arrastei-me pelos corredores da MAC até à entrada principal onde estive com o Vicente ao colo, pela primeira vez em muitos meses, debaixo do olhar de poucos amigos do segurança.
Muitos beijos, muitos abraços, muitas saudades.
E depois ele foi-se embora com o pai, de novo lavado em lágrimas.
E eu voltei até à neonatologia.
E elas lá estavam.
Calmas, sempre calmas.

Depois fui jantar.
E voltei.
E sentei-me numa cadeira e ali fiquei.
Sentada.
A olhar para os monitores.
A olhar para elas.
À espera do sono.

Era quase uma da manhã quando voltei para a enfermaria.
A enfermeira veio ter comigo.
“Tenho que lhe tirar sangue”.
A esta hora?!
“Tinha um valor muito alterado nas últimas análises e o médico quer repetir isso com urgência”.
Os braços todos doridos e picados do soro e das análises diárias da última semana e meia.
Ela tentou. E tentou. E tentou.
E rebentou-me a veia.
E foi sangue por todo o lado.
A cama toda suja.
Eu toda suja.
Ela lá aproveitou algum.
“Já peço à auxiliar para vir mudar a cama”.
Troquei de camisa de noite, com esforço, e esperei sentada pela auxiliar porque deitar-me e levantar-me era muito doloroso depois da cesariana.
Esperei em vão.
Coloquei a toalha de banho em cima do sangue e deitei-me.
Eram quase duas da manhã.

A enfermeira veio dizer-me que a auxiliar já vinha.
Eu disse que não valia a pena porque não me ia levantar e deitar outra vez.
E às duas da manhã ela disse: “Ponha o despertador para as 4h para ir tentar tirar leite com a bomba”.
E eu perguntei: “Não posso fazer isso de manhã? Tipo às 7h?”
“Não, durante a noite a produção de leite é maior e não tendo um bebé para estimular o peito e tendo elas nascido às 31 semanas, não vai ser fácil”
E eu: “Mas elas para já só estão a soro…”
E ela: “Sim, mas não vai conseguir ter leite nos próximos dias, mas tem que estimular de 3 em 3 horas com a bomba”

Coloquei o despertador para as 4h.
Respirei fundo.
Alguns bebés da enfermaria choravam, outros dormiam.
Fechei os olhos.
Pensei nelas. No Vicente.
Revi as fotos delas no telemóvel.
E mesmo antes de adormecer pensei: “Raios, ainda não foi hoje que lavei a porcaria do cabelo!”

Foi há um ano.
Parabéns princesas.




43 comentários:

carmo pinto disse...

longo mas tão bonito mamã!
parabens!tendes umas lindas meninas!
parabens a toda a familia!
amanhã delicia te numa cabeleireira!com as tuas princesas!
;)
bjs

jmalho disse...

Muitos parabéns pelo 1º aniversário das tuas meninas!

É um relato muito comovedor e só te posso dizer que és uma pessoa muito especial.

Bjos, Joana

*Quicas* disse...

Parabéns, muitos parabéns. Um ano depois estão lindas e grandes e fortes e saudáveis. E é o que importa.

(as gémeas nasceram um dia depois da minha Flor, que ontem fez 5 anos, e o Vicente já não me lembro se um dia antes ou depois da Cloe)


:)

Sofia disse...

Que relato emocionante!!!
Muitos parabéns pelo primeiro aniversário, é sempre muito especial :)
Bjinhos para as 3

abotelho disse...

Bem, lá fiquei eu com uma lagrimita no olho!!!
Foram dias e tempos dificeis que felizmnte já passaram!
Tens umas princesinhas lindas lindas.
PARABÉNS, MARIA E EVA!!! Vocês são umas lutadoras e umas vencedoras (aliás toda a familia o é).

Bjocas

P.S. Espero que entretanto o cabelo já tenha sido lavado!! eheheh

Mami ( Sónia ) disse...

Muitos parabéns pelo 1º aniversário das tuas princesas!

Li o relato todo de ponta a ponta, sempre com as lágrimas nos olhos, tive mesmo de parar porque a certa altura já não conseguia ler.
És incrível ter passado por tudo isso, elas são incríveis fortes como a mãe, com uma vontade de viver imensa.

Parabéns e muito muitos beijos

cristina disse...

Tão lindas! Parabéns!

Paula disse...

Chorei ao ler as tuas palavras. Elas tu e toda a familia são uns guerreiros e este dia é mesmo de grandes comemoraçoes. Muitos parabéns

Tanita disse...

Muitos, muitos, muitos parabéns!

Tudo de bom para todo o sempre!

Beijinhos!

Ni! disse...

Ah valentes! Maria e Eva, desejo-vos tudo o que vida tem de melhor.
Parabéns aos papás e ao mano, que esse momento há um ano atrás não há-de ter sido fácil para nenhum de vós.
Muitas felicidades para os 5 e um beijinho

Maria Vicente disse...

O post mais lindo e com mais sentido que li neste mundo mágico dos blogues.
Adoro-te, tu sabes isso, a ti ao Vicente (que tem o meu nome) às tuas meninas e claro o teu marido que concerteza é 5 estrelas como tu.
Parabens miga, parabens a dobrar, tudo de bom hoje e sempre.
Beijo cheio de emoção

Marisa disse...

Como sempre.. fizeste-me chorar!
Muito parabéns a todos! Principalmente às duas princesas guerreiras! Muitos anos de boa sáude e sorte! Um beijonho nosso.
Marisa & vasco

Carla disse...

Olá!
Sou a Carla, não te conheço nem tu me conheces. Acho que já comentei por aqui...descobri este blog porque também tenho duas meninas (8 meses) e sigo alguns blogs de gémeos que encontro!
Não há palavras para expressar o que me fizeste sentir com este post. Ainda não li tudo. Porque estou no meu serviço e porque já comecei a chorar. Então tive que parar de ler...depois leio o resto (talvez em casa, para poder chorar à vontade!)
Revejo-me em tanto do que escreveste. Aliás, como em tanto deste blog! Parece quase escrito por mim...com algumas diferenças, é claro!
Também não tenho palavras para te dirigir depois disto. Depois de tudo. Depois de eu saber exactamente o que sentiste e como te sentiste, porque também eu o senti!
Apenas: parabéns! Tens as filhas mais lindas do mundo (pronto, as minhas também são!).
Um beijinho especial :)

Sarah disse...

Parabéns Maria e Eva!
És sem dúvida, uma mulher de coragem!!! Parabéns também para os papás.

Sara disse...

Parabéns a essa família linda! Parabéns às princesas que já lutaram tanto mas que são lindas e maravilhosas. Que a vida vos sorria sempre e só vos traga coisas muito boas.
Beijinhos
Sara

As Mini-Gajas disse...

Muitos parabéns ás princesas e muitos parabéns aos papás. É de facto emocionante. Não consigo sequer imaginar o que será passar por algo semelhante. Tive a felicidade de correr tudo bem com a minha gravidez e com o nascimento das minhas gémeas...
As tuas filhotas estão pura e simplesmente LINDAS! :)

mãe pimpolha disse...

Muitos parabéns às princesinhas.
Beijocas

Barriguita disse...

1 ano depois é altura de celebrar o milagre duplo, as pequenas princesas que nasceram cheias de garra e vontade. Parabéns a elas!

Conheço a realidade de um serviço de nenonatologia, mas de uma forma bem diferente, porque o meu bebé tinha quase 4 kgs e nunca esteve ventilado, nem com tantos cuidados. ainda assim, foram os 5 dias mais longos da minha vida.
inevitavelmente, revi muito do que passei: as noites sem ele ali ao lado, o acordar para estimular o leite, o ouvir o choro dos outros e não ter o meu ali ao lado... Já chorei com este relato, mas PARABÉNS a uma Mamã muito corajosa e cheia de força!

Maria José disse...

Bem longo mesmo,
mas com as princesas lindas que tens aí são lindassssssssssssssss
beijokas

disse...

Já passou um ano e parece que foi ontem e de certeza que nunca irás esquecer...li o teu relato com uma lágrima no olho.
Muitos Parabéns aos papás!
As meninas estão tão bonitas e crescidas!
Desejo-vos as maiores felicidades e um dia muito feliz neste primeiro aniversário.
Parabéns Maria, Parabéns Eva.
Beijinho

Kiki - Família de 3 e 1/2 disse...

São umas vencedoras essas princesas! :)
E uma benção estarem tão bem e tão saudáveis! Muitos Parabéns e que continuem a crescer lindas, espertas e com muita saúde!

Luciana disse...

Muitos, muitos parabéns pelo 1.º aniversário das mulheres pequeninas da casa!!!
Adorei ler o relato do nascimentos, uma lágrima teimou em saltar, talvez da emoção de ler a luta de uma mãe pelas suas crias, talvez por neste caso a ciência ter tido um papel fundamental na sua sobrevivência....
Muitos parabéns aos pais pela linda família!!

Anónimo disse...

Parabéns para as pequeninas e também ao resto da família, estão todos de parabéns!!! Só foi pena o cabelo, mesmo... (eheh) Beijinhos

Sónia N J disse...

Fiquei de lágrima no olho. Muito bonito como relatas o nascimento das tuas princesas. Muitos parabens para todas. às meninas lindas, e a uma mãe cheia de coragem. beijo

Ana Cordeiro disse...

Muito bem escrito... aliás, como sempre.

Parabens para todos!

Mãe das Marias disse...

Muito emocionante, toda a gravidez e o culminar do nascimento delas!
Que história tão fantástica, e o mais fantástico é que "acabou" tudo bem e hoje tens 2 princesas maravilhosas!
Parabéns! Mil vezes parabéns!!!

beijinhos***

Isa disse...

Parabens pelas meninas lindas...

e pela forma linda de contar a historia

Ana disse...

emocionas-me sempre. Mais uma vez parabéns pela enorme coragem e por essas duas pimpolhas lindas!

rbalmeid disse...

Parabens! Elas estao lindas.

Elisabete disse...

Boa noite, quero desde já dar lhe os parabéns!
Também tenho duas meninas gémeas com 4 meses e outra menina com 3 anos.
É uma casa de mulheres,o único homem é o pai. Adorei o seu relato, tenho acompanhado os seu blog e adoro. Muitos parabéns a mama e as meninas!

Gaiatas disse...

Li cada palavra !

Parabéns a ti, às princesas guerreiras e ao Vicente, que aguent0u tanto..

um beijo gigante *

pedradababy disse...

Parabéns Duplos para as princesas e também para os super pais. Elas são lindas!!!!!! Uma benção! Estou tão emocionada por ler o teu relato que estou com lágrimas nos nos olhos.
Desejo que tenham muitos e muitos mais aniversários, sempre lindas, sempre cheias de saúde e sempre rodeadas da família linda que tÊm. Felicidades a voçÊs 5

persiana disse...

Lindo! e lindas!

Lena disse...

E deixas-te de lagrima no olho! Senti tudo como se fosse comigo... só quem por lá passa! Parabéns a todos!

Mama Babada disse...

Parabéns às princesas lindas!
Beijokas
Nídia e Eva

Rraimundo disse...

Não foi fácil ler e não deixar escorrer uma boa meia duzia de lágrimas pela face... ainda me lembro qd elas foram para casa, e já passou um ano!
Muitos parabéns as duas que estão lindas e crescidas e aos pais, em especial a ti que és muito forte e soubes-te sempre estar à altura.
Beijinhos

Anónimo disse...

Não li o texto todo por ser demasiado longo :) as imagens dizem tudo sobre akilo ke gosto em blogs ou não, e eu adoro o teu :) ..e tu nas frases mais curtas és a autora mais fantástica dos blogs maternos..
ter berço, o não ter e o inventar um, faz toda a diferença :D

Mara_Q disse...

Parabéns (atrasados...) à Eva e à Maria! Estes teus relatos deixa-me de sempre de lágrimas nos olhos...
Beijocas

Tita disse...

Obviamente que neste meu estado de gravidez (e muito chorinhas), me fartei de chorar em quase cada linha que lia... ter um parto prematuramente deve ser muito doloroso para a mãe... mas tudo passou e hoje tens 2 meninas lindas e um dia que recordarás sempre, e acima de tudo, com muito amor!

Bjinhos

contigo ao amanhecer... disse...

Parabéns Princesas e Muitos, Muitos Parabéns à "Grande Mãe" das Princesas. É só o que consigo dizer...
Gde Beijo da
Teresa

Olga disse...

Parabéns!!!...estão lindas!!!Adorei o texto!!

Unknown disse...

Lindas! Fiquei de lágrimas nos olhos com o teu relato, tão puro. Gosto de vos ler! Parabéns lindonas!

© | TéTé £ XαVιєR | disse...

E os MILAGRES não param de acontecer!
Muitos parabéns e felicidades... sempre.
Beijos
Tété & Xavier